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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

AFASTA DO TEU CORAÇÃO O DES-GOSTO E DA TUA CARNE A DOR

Para ler: Eclesiastes 11 e 12

O livro de Eclesiastes nos faz recomendações aparentemente contraditórias. Sim, porque de um lado se recomenda que o jovem recreie seu coração, ande por caminhos que agradem aos olhos e que satisfaçam o coração. Então, depois desse estímulo, aparece uma frase que diz: “Sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá conta”.

Ou seja: diz que se deve recreiar a alma, escolher o caminho belo, e agradar o coração, para então depois chamar a atenção para uma possibilidade quase nunca considerada nesta existência, que é a de que é possível se divertir saudavelmente, apreciar o que é bonito, e agradar a própria alma, sem fazer disso algo que necessariamente seja mal.

Afinal, Deus pedirá conta um dia de cada ato do ser... Mas, tal fato, não tem que ser visto como um convite à evasão de tudo o que possa significar alegria. Por esta razão o texto prossegue estimulando o jovem a experimentar as boas alegrias e os bons prazeres.

Assim, a recomendação é para que o jovem não se iluda com as falsas alegrias, nem com as belezas que não alimentam também a alma, e com as satisfações que não completam o ser.

Portanto, se diz: “Afasta, pois, de teu coração o desgosto e de tua carne a dor, porque a juventude e a primavera da vida são vaidade”. E prossegue recomendando que se faça isto “antes que cheguem os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer”.

Desse modo o equilíbrio da revelação da sabedoria nos põe no caminho do meio na existência, afastando-nos dos pólos e dos exageros em tudo.

Infelizmente, na maioria das vezes, a juventude é disperdiçada no jovem!

É por esta razão que se passa da vida do jovem..., e se diz: “... antes que venham os maus dias...”—; fazendo-se, então, uma descrição de como pesa a vida de um velho. Sim, porque a velhice em si é canseira e enfado. Porém, quando o velho foi um jovem que desperdiçõu a sua juventude no desgosto e na dor, sua idade avançada será amargurada e triste.

Desse modo, o que o Eclesistes pede é que aqueles que, na juventude, se alegram, o façam com alegria verdadeira; e não com as euforias que só geram, ao final, desgosto e dor.

Daí o apelo: “Afasta de teu coração o desgosto e de tua carne a dor...”

Ora, o estranho é que as maiores dores e desgostos que alguém pode carregar vida afora, em geral, são aqueles que decorrem de uma juventude que se disperdiça na insensatez do jovem empolgado com a primavera da vaidade.

Assim se fica sabendo que a verdadeira juventude não é irreflexiva e nem inconseqüente!

Entretanto, o conselho da sabedoria não está na evasão da alegria, mas na edução dela; de tal modo que nenhuma alegria seja a vereda do desgosto, da descrença e do cinismo; e, nem tampouco, seja algo que consuma a carne com desgastes que não se tornarão em capital de bem estar para o futuro.

Hoje, quanto mais vejo a moçada tratando sexo como “hotdog” e vejo a proliferação de “ficadas” que só deixam para trás o imperceptível desgaste de alma (fruto da troca de energias espirituais que não são boas) —, penso que nunca foi tão importante que se creia — e apenas se creia com base na saúde proposta na sabedoria divina, e não em nenhuma “moral exterior” — no quão danosas são para o ser (da carne ao espírito), essa cultura de desgosto e dor que se espalha pela terra.

Sim, porque no final, não é apenas questão de botar uma camisinha ou tomar um contraceptivo feminino, transar, lavar, botar a calcinha ou a cueca, bater um bom papo sobre a cama-coisa-nenhuma, e pensar que isso é apenas massagem erótica, e nada além disso.

Na realidade, conforme tenho dito, um casal que deseja ter uma vida juntos, tem que tecer tal existência de modo processual, pois as coisas do amor não são automáticas, mas tecituras de gestos feitos no cotidiano e no tempo, um dia depois do outro.

Entretanto, conforme Paulo, a “fortuidade” existêncial, como o unir sexualmente des-significado com alguém, gera um espírito, um outro termo, uma alteração na essencia da pessoa; pois, tudo o que não é amor, é automático para o mal, produzindo transferências de natureza estranha, e, por vezes, deixando na pessoa uma sombra que, na maioria das vezes, ela não sabe nem mesmo de onde veio.

Isto sem falar que a opção por alegrias sem significado des-significam o ser; o que gera desgosto e dor de natureza psicológica e existencial.

Nestes dias, percebo que a grande dor humana já não advém do sentimento de “repressão”, como aconteceu nos séculos que nos atencederam. Prova disso é que a doença feminina por execelência era a histeria, a qual é quase sempre o resultado da repressão, especialmente a de natureza sexual. Hoje, todavia, a histeria deixou de ser a grande vilã das angustias da alma, e se vê o crescente domínio da “Sindrome de Pânico”, tanto em homens como em mulheres; a qual (a Síndrome) produz sentimento de desamparo, orfandade e solidão.

Assim, quanto mais as pessoas se dão, mesmo que livres da repressão, sem o saberem, viajam para o pólo oposto, que é o da solidão e o do abandono.

Desse modo, o convite divino é para que a alegria seja verdadeira, o belo carregue sentido e significado, e para que o que chamamos “satisfação”, não seja auto-engano, mas verdade boa para o ser.

Não adianta tentar viver em qualquer dos dois pólos... Ninguém consegue neles encontrar vida.

Aliás, é Paulo que, aos Gálatas, diz que não se deve tentar viver nem sob as repressões da Lei e nem tampouco na Libertinagem e seu poder de introjeção; pois, no primeiro caso, a alma mergulha no desgosto de nunca ter sentido nenhum gosto; e, no segundo caso, ela se abisma no mundo das diversidades que criam legiões de espíritos e de sentimentos herdados pela alma em razão do excesso de trocas des-significadas.

Portanto, aproveita tudo aquilo que aproveita-aproveitar; e não te percas na multidão de prazeres que são apenas a injeção do desgosto e de dor de corpo-imagem na alma.

Todo aquele que desconhece tal equilíbrio, não importando o pólo no qual viva, experimentará muito desgosto e muita dor nesta existência; desperdiçando a força da juventude enquanto é jovem; e epenas acumulando para si os pesos de amarguras e de dores de ser que se estocam para os anos dos quais se diz: “Não tenho neles prazer!”

Pense nisto!

NEle, sem caretices ou carrancas morais, mas visando à formação da face de Cristo em todos nós,

Caio Fábio

JESUS ERA RUIM DE MARKETING!

Alguém me escreveu dizendo que não entende por que Jesus agiu como agiu, ao invés de fazer como César ou Alexandre, o Grande.

A ele e a tantos quantos pensam a mesma coisa, digo o seguinte:

Jesus veio para salvar o mundo, e, contudo, não fez nada igual aos que se oferecem como salvadores dos homens.

Já se disse demais [embora valha a pena repetir] que Ele não escreveu sequer um livro, não erigiu um pilar, por mais fajuto que fosse; não mudou para Roma e nem para Atenas ou mesmo para Jerusalém; não aceitou a oferta dos gregos de ir viver entre eles; não buscou impressionar os filósofos gregos ou os senadores romanos; e nem tampouco sistematizou um ensino para ser decorado ou aprendido; e, para completar a serie de “insensatezes”, ainda escolheu andar com gente que não formava opinião, não era conhecida, não tinha berço, e não agia no meio político ou religioso. Ele fez como o Pai: Do que estava sem forma e vazio Ele iniciou o reino!

Além disso, Ele não gerou filhos e nem deixou herdeiros carnais de nada. Não criou amuletos com pedaços de suas roupas ou utensílios de uso pessoal [toda essa história de Graal e relíquias santas é paganismo comercial brabo feito em nome de Jesus], não “marcou lugares santos” e nem estabeleceu “peregrinações sagradas”, como ir à Jerusalém, à Cafarnaum, e muito menos a qualquer outro lugar santo ou “Meca”.

Também não inventou “uma parte profunda” de Seu ensino apenas reservado aos Entendidos e Autoridades. Não venerou nada. Não se vinculou à coisa alguma, nem mesmo ao Templo de Jerusalém, ao qual derrubou com palavras proféticas.

Chocante também é o fato Dele não se poupar em nada. Cansado, então cansado. Com sede, então com sede. Ameaçado, então cauteloso. Descrido, então muda de lugar. Amado, mostra amor, mas não fica seqüestrado pelo amor de ninguém. Desperdiça oportunidades de ouro. Joga fora o que ninguém jogava. Insurge-se contra aquilo que ninguém se levantava em oposição. Provoca a morte com vida até ressuscitar.

Ressuscitar. Sim! Mas para quê? Se as testemunhas não eram criveis. Até óvnis têm testemunhos mais criveis do ponto de vista do que se julga um testemunho respeitável. E além de tudo Ele só aparece para quem crê, e não faz nenhuma aparição ante seus inimigos, no Sinédrio de Jerusalém, por exemplo. Até para ressuscitar Ele trabalha contra Ele mesmo, do ponto de vista de “estratégia de ressurreição”.

Sim! Jesus não fez nada concreto. Tudo Nele era abstrato, até quando era concreto. Tudo tinha que ser apreendido com o coração, e não apenas aprendido com a mente. Um dia depois do milagre da multiplicação de pães e peixes, todo o resultado do milagre já havia sido digerido e evacuado. Ninguém foi por Ele instruído a guardar amostra dos pães e peixes, nem tampouco pediu Ele que se guardasse um tonel de vinho de Caná.

Jesus era do tipo que jamais chegaria à Betânia e diria: “Foi aqui que ressuscitei Lázaro!”

Sim! Ele não tem histórias de Si mesmo para contar. O presente é a História para Jesus. Suas histórias não são passadas, são todas presentes. Suas histórias são as Suas palavras de vida e poder enquanto...

Ora, eu poderia ficar escrevendo aqui para sempre sobre o assunto [aliás, tenho três livros que lidam com essas questões de modo amplo e extenso]; no entanto, o que me interessa é apenas afirmar que assim como Jesus tratou a vida e a História, do mesmo modo Ele espera que nós o façamos, até quando estivermos exaltando o Seu nome ou pregando a Sua Palavra; e, sobretudo, no vivendo da vida.

Ou quem nos fez pensar que Jesus era assim apenas porque Ele tinha que ser assim? — Mas que nós, que não somos Ele [e que temos a tarefa de propagandeá-LO na terra], temos permissão para tratarmos Jesus em relação ao mundo de um modo diferente do que Ele tratou a Si mesmo? Sim! Quem nos convenceu de tal loucura?

O modo de vivermos e pregarmos o nome de Jesus no mundo é exatamente o mesmo com o qual Ele tratou a Si mesmo na experiência humana de Seu existir entre nós.

Meu reino não é deste mundo!”

Afinal, quem é César? Quem é Alexandre?

Você deve a vida a qualquer um dos dois? Em que César ou Alexandre ajudam a sua vida hoje?

Assim, pergunto:

Você aceita desistir do que erro no qual foi criado na religião e passar a viver com os modos e motivações de Jesus?

Pense nisso!

Caio Fábio

QUANDO A FONTE DE ÁGUA VIVA SE CONVERTE EM POÇO DE JACÓ

João 4

Uma mulher com sede de amor ouviu dos lábios livres de Jesus que a sede que a fazia buscar dessedentar-se em amores sucessivos, indo de peito de homem em peito de homem, casando-se e descasando-se, nada mais era que sede de Deus.

Jesus disse também a ela que Ele tinha a água espiritual que mitigaria sua sede para sempre.

A mulher creu. E em perplexidade correu à cidade de Siquem da Samaria e contou “aos homens”—os quais ela bem conhecia—, tudo o que Jesus dissera sobre ela. E lhes perguntou: “Seria esse o salvador do mundo?”

Os homens da cidade foram ouvir a Jesus. E já chegaram ‘como quem crê’; pois, a perplexidade da mulher lhes fizera crer que algo genuíno e diferente havia sido percebido por ela num homem; e não era de natureza sexual a satisfação que eles na mulher discerniam.

Depois de ouvirem Jesus lhes falar pessoalmente, disseram à mulher: “Já agora não é pelo que disseste que cremos, mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo”.

Ora, esse milagre da percepção aconteceu porque eles convidaram a Jesus para estar com eles.

Jesus ficou dois dias entre eles.

Para eles foram dois dias ouvindo a Palavra da Palavra.

Palavra encarnada.

Palavra humanizadamente divina e divinamente humana.

Palavra limpa, feita também de gestos.

Palavra pura, sem disfarce.

Palavra doce e cortante.

Palavra des-nudadora e penetrante.

Palavra das Boas Novas da Água da Vida!

Dois dias...

Dois dias sendo iluminados pela Palavra que sai da boca de Deus em Cristo.

Dois dias... e tudo mudou em suas existências.

Dois dias... e eles dizem “já agora não é pelo que disseste a nós, mas porque nós mesmos ouvimos e sabemos...”

Dois dias... e eles discernem por revelação que Aquele era o salvador do mundo.

Dois dias... e eles dizem “já não é mais pelo que disseste, mas por que nós ouvimos e sabemos...”.

E isto simplesmente mostra que eles haviam passado do estado de pessoas impressionadas para o de pessoas conscientes na fé.

Dois dias... e eles já podiam andar com as próprias pernas.

Dois dias... e eles já podiam seguir o caminho tendo ouvido e discernido “por si mesmos” que Jesus era Aquele.

Vejo isto e me assusto!

Assusto-me porque o que vejo a minha volta é muito diferente.

Isto porque conheço muito pouca gente que “já agora” crê não “por causa” da existência de um alguém especial na fé, mas porque eles mesmos têm “ouvido e sabido” que Jesus é Aquele.

Sendo, portanto, o Tudo que tais pessoas esperavam para si mesmas.

Assusto-me porque vejo que a maioria depende da fé de outros.

Precisam do “testemunho” de outrem para o resto de suas existências; do contrário, perdem a fé.

O que vejo são pessoas que não conhecem jamais a Deus para si mesmas e por si mesmas, mas dependem fundamentalmente da experiência de outros a fim de caminharem daqui para ali na existência, sendo que jamais chegam a conhecer a Deus nesta vida... embora sejam “crentes”.

O que vejo são pessoas eternamente dependentes de testemunhos, e que jamais são elas próprias o testemunho.

O que vejo são pessoas que só sabem de Deus por informação de terceiros, e que “crêem”, mas não conhecem para si mesmas aquilo no que confessam crer; pois, quem de fato conhece a Deus para si mesmo, e, por si mesmo, esse ouviu a Palavra diretamente da boca de Deus.

O que vejo é a ‘samaritana’ se tornar garota propaganda de Jesus, e, depois de uns poucos anos já estar pedrada em sem a Água da Vida, apesar de ter dado o seu testemunho em muitos jantares, e com muito boa comida.

O que vejo são os ‘homens de Samaria’ ficando na cidade, não saindo para encontrar Jesus, e, ao invés disso, contratando a ‘samaritana’ para lhes dar testemunho; testemunho esse que se corromperá em muito pouco tempo.

O que vejo é a ‘samaritana’ logo voltando a ter sede, só que agora ela não tem mais nem mesmo a liberdade para ser ela própria, posto que já não dorme com os ‘homens da cidade’, mas é contratada deles; e por essa razão tem que ter sede em silêncio. A ‘samaritana” prostituiu-se no espírito e vendeu a alma, embora cubra o corpo de falso pudor.

O que vejo é a ‘samaritana’ procurando a Jesus apenas para ter o que reproduzir aos ‘homens da cidade’ no sermão do domingo seguinte.

Sim, o que vejo é a Fonte de Água viva ser trocada pelas artificialidades do poço de Jacó; e vejo a ‘samaritana’ vendendo acesso ao lugar da “experiência com Jesus”.

Vejo o poço de Jacó virar “igreja”, templo da saudade, memorial ao que se soube, e já não se sabe mais; e, por fim, vejo-o tornar-se apenas um grande negócio de ludíbrio e engano, no qual Jesus nem água quer beber, posto que tal água não é fria nem quente; por isso acerca da água de tal “poço” Ele diz: “Porque não és nem frio nem quente, mas morno; estou a ponto de vomitar-te da minha boca”.

Pense nisso!

Caio Fábio

NEGAÇÃO E VIDA ABUNDANTE: COMO É POSSÍVEL?

Quando Jesus disse que para ser Seu discípulo a pessoa teria que negar-se a si mesma, tomar sua cruz e segui-Lo, o que desejava Ele dizer?

Sim! Qual seria o objetivo disso? Pra que a fim de Segui-Lo alguém tem que negar tanto e carregar o peso de sua cruz? Que desejo é esse pelo não-desejo? E o que se ganha com tal escolha para o ser? Seria o propósito de tal negação o mesmo caminho de anulação da pessoalidade conforme outros “caminhos” espirituais? Ou, de fato, seria-é este o único modo de um homem poder alcançar a si mesmo? Seguir a Jesus no fim não é a mesma coisa que encontrar a si mesmo? Ou haveria um caminho para o homem consigo mesmo e um outro dele com Deus?

Na realidade a religião nos fez ver o chamado de Jesus ao discipulado como sendo algo de natureza comportamental [na maior parte das vezes significando um modo de ser e expressar diminuído] e, quando tem sua aplicabilidade na natureza subjetiva das coisas, sempre o é como algo subjetivo-castrante.

Ou seja: a lógica de tudo isto seria que o mundo é mau, o homem é caído e cheio de desejos perversos; e, a fim de mostrar que de fato deseja a vida eterna, ele deve desistir aqui de tudo aquilo que não haverá lá; pois lá, tudo o que é fugazmente bom, gostoso e apetecível aqui, não terá lá seu lugar... — supostamente.

Embora ninguém conheça qualquer coisa mais próxima do eterno que o momento; digo isto de modo não existencialista [que jamais seria], mas sim do ponto de vista do significado existencial que há entre o Eu-Sou e o Hoje.

Eu-Sou e Hoje São. É. Hoje é. Eu-Sou é. Eu-Sou-Hoje é. Por isso Hoje é Dia de Salvação!

Mas voltando a nós mesmos, a questão é: ao nos chamar para segui-Lo de modo a largarmos a nós mesmos e tomarmos cada um a sua cruz, o que Jesus deseja fazer de nós?

Queria Ele que nosso caminho fosse sofrido como o Dele? Ou Ele apenas dizia com palavras de negação aquilo que de fato leva ao caminho da maior expansão e da maior ampla utilização do potencial humano; ou melhor: do potencial de cada um de nós?

Seria possível que Aquele que nos chama para a Vida Abundante se contradiga nos chamando para uma Existência Podada?

Ora, para entendermos apenas um pouquinho o sentido do que Jesus no diz, temos que compreender que o significado espiritual da ordem-convite de Jesus é inversa ao sentido que a religião propõe; e isto fica claro quando “Jesus é a Chave Hermenêutica” para a compreensão de Jesus mesmo, no que Ele diz, propõe e ensina; pois, outra vez, a fim de sabermos o significado do que Ele disse, basta vermos Nele o Verbo Encarnado, e, assim, entendermos Seu chamado pelo modo como Ele caminhou. Afinal, o chamado é para segui-Lo.

Para Jesus o negar a si mesmo não implicou em morte de nada que é vida, mas apenas na morte de tudo o que mata.

Assim, “o negar a si mesmo” é negar o lado suicida da existência; e que compõe a maior parte do que chamamos “vida”.

Desse modo, “negar a si mesmo” é o que nos leva à vida abundante; pois, o que chamamos “vida” é o que Deus chama morte desde o Éden.

O “si-mesmo” do homem é todo ele forjado na Árvore do Conhecimento do bem e do mal, com todas as suas invejas, disputas, inseguranças, homicídios, competições, porfias, comparações, vaidades, orgulhos, jactâncias, arrogâncias, superioridade, domínio, controle, poder, e tudo o mais que é essencial no mundo “do bicho-homem” —; e que pensa que ele existe melhor se puder ficar no controle de tudo como um deus-bicho.

Para Jesus o homem tem que desistir do bicho. Esse é o significado de negar a si mesmo.

Sim! Porque somente quando o homem nega o bicho e o mata em si todos os dias, até que ele morra de fato, e de fato seja morto todo dia como um fato-ser da existência da pessoa [este é o alvo] — é que o potencial do Homem pode encontrar seu lugar de projeção do interior para a mente e para o olhar da vida. E, daí, se tornar um rio de vida no toda da existência.

O “si-mesmo” animal do bicho no homem é o que se torna o teto grosso e espesso que o impede de se desenvolver até a estatura do Homem; ou do Varão Perfeito, no dizer de Paulo.

O “si-mesmo” é o que nos dá esta estatura nanica em todas as dimensões de nosso ser.

Afinal...

Na vaidade quem observa a beleza que não seja em si mesmo ou, no outro, como cobiça apenas?

Na arrogância, quem aprende?

Na intolerância, quem aprende a olhar, ver e amar?

Na competição, quem serve?

Na disputa quem compreende?

Na força, quem não testa o outro?

Na cobiça quem não mata?

Na comparação quem não se perde?

Na busca de controle quem não se escraviza?

Vivendo para o “si-mesmo” quem não perde o próprio ser?

Há um imenso potencial adormecido no homem. E em Jesus nós vemos quem o Homem é. Em Jesus nós vemos quem Deus é e quem o homem pode ser.

Por isso, Ele é o Filho do Homem; e, também por esta mesma razão, quem volta ao mundo é o Filho do Homem; pois, que sentido haveria em salvar o homem para qualquer coisa que não o fizesse Homem?

Ora, Jesus disse que Nele o homem faria as mesmas obras que Ele faz e que outras maiores faria, pois, Ele iria para o Pai; e que sendo assim, esse estar-no-Pai traria o Espírito de Deus para todo homem que cresse; e assim nos disse que é desse crer que procede a fonte de todo o bem; a qual desprende no homem o poder real que o leva a ser conforme o Filho do Homem; isto, porém, num processo continuo...

Nosso “si-mesmo” é lixo. É feito de Tornados de poeira espiritual, psicológica e da invasão contagiosa de todas as formas de existência às quais o homem seja sensível, mesmo que não as reconheça.

O “si-mesmo” é tão doente quanto mais cheio de vaidades, orgulhos, narcisismos, disputas, medições, juízos, competições, ódios, antipatias, porfias, adultérios, prostituições, deslealdades, infidelidades, ciúmes, invejas, manipulações, induções, ambições de controle, e vontades objetais possuírem o “homem”; ou melhor: o bicho-homem.

O “si-mesmo”, portanto, é também a causa de toda insensatez e de toda burrice humana. Pois, tomado pelas “presenças” acima descritas... — quem ouve, quem atende, quem entende, quem entrega, quem renuncia, quem discerne, quem escolhe o melhor caminho; e, sobretudo, quem é capaz de amar?

Deixar o si-mesmo é largar o lixo. E tomar a cruz é abraçar a vida!

Tomar a cruz é abraçar a via de Jesus. E qual é a via de Jesus? Ora, creio que a esta altura, com tudo que tenho dito e escrito aqui no site sobre “o Caminho”, que é a via de Jesus, fica meio desnecessário ampliar; basta ler.

Entre-tanto...

A cruz é amor. A cruz é Graça. A cruz é o caminho da compaixão. A cruz é a vereda menos percorrida. É a Porta Estreita. É o caminho simples. É o passo sem pressa que a certeza do amor produz.

A cruz é o jeito Feliz de Jesus viver a Vida. A cruz é modo consciente de Jesus morrer a morte.

A cruz é abraçar os que não se abraça. A cruz é escolher o caminho bom contra tudo e todos.

A cruz é o chão da verdade. A cruz é a antítese do “si-mesmo”.

Então, é segui-Lo...

Entre-tanto...

É um seguir sempre lembrando que o sentido de tudo está invertido à nossa volta; pois, agora, se sabe que o cheio, esvazia, e que o vazio, enche; que o homem cheio de coisas, fica vazio de essência; e que o homem vazio de coisas se enche de essência; visto que nada há mais poderoso do que uma coisa só no ser.

A morte do “si-mesmo” e o “abraço-ao-momento-amor” como sacramento da cruz, é uma experiência só possível se nada houver em nós além de nós.

Neste ponto, todavia, é que o Homem vai crescendo no homem...

Então, surge o silencio, a calma, a tranqüilidade, a confiança, a segurança, a autoridade, o poder da fraqueza, a alegria com Causa, a esperança que não sabe morrer, a fé que nunca retrocede, o saber que está para além da compreensão e do próprio entendimento; e, sobretudo, de tal “fraqueza” surge um poder novo no espírito, o qual, organiza e subjuga a alma; e põe a pessoa no passo da serenidade que em si já é poder.

O que segue a isso é de natureza ilimitada!

Vem e vê! — disse Jesus a quem queria saber mais.

Nele, que nos chama a segui-Lo,

Caio Fábio

VOCÊ LUTA CONTRA AS TENTAÇÕES?

Tentação!

Quem não as tem?

Quem nunca as teve?

Quem jamais as terá?

Sim, de todos os tipos e de todas as formas. Indo de realidades subjetivas às mais grotescas vontades de realizações objetivas e concretas.

O Evangelho praticamente inicia com o tema da tentação!

Por isto não é de admirar que Jesus tenha nos mandado vigiar e orar para não se “cair em tentação”. E com este “cair em...”, Ele revela que a tentação tem suas estações; ou seja: seasons. Ora, esta “estação das tentações” têm a ver com as dinâmicas psiquicas de nosso ser, conforme também aconteceu com Jesus.

Na fome, na necessidade de afirmação e no desejo de cumprir Sua missão, a tentação veio como indução para transformar pedras em pães (fome), como impulso para resolver quem Ele era aos olhos de todos de uma vez (Pináculo) e como um “bypass” no tempo, queimando etapas, sobretudo a etapa da Cruz (o Monte Alto).

Portanto, quando Ele mandou orar para evitar a tentação, com isto não ensinava nem a devoção neurótica (orar contra a tentação), nem a atitude paranóica (poderei ser atingido pela tentação a qualquer momento). Sim, porque o que Ele ordena é que se encha a mente de oração, de um falar constante com Deus, e que nada mais é senão um falar consigo mesmo em Deus; de tal modo que o pensar não é de si para si, mas acontece em Deus, vivendo assim em permanente estado de conferência com Ele; em tudo. Além disso, no Pai Nosso, Ele vincula o “não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal” — ao contexto antecedente, que fala de estar cheio e tomado pelo Pai, pelo desejo de que Seu nome seja em nós santificado, que seu reino cresça em nós (venha!), que a vontade Dele tenha seu lugar e chão em nós; além de nos remeter para a busca do que é do céu aqui na Terra.

Assim, uma das maiores prevenções contra a tentação tem a ver com uma devoção profunda e não neurótica; posto que se propõe a buscar o que é maior e mais elevado, ao invés de se deixar tomar pelo que é aqui da Terra. Botar as coisas da Terra sobre aquilo que é eterno, é o que abre o espaço existencial maior para a tentação.

Portanto, “orai...”, diz Ele, para que não se caia em tentação!

É esse orar aquilo que mais e melhor previne a estação das tentações. Todavia, se alguém decide orar contra ou por causa da tentação, mais tentado ainda ficará; posto que a tentação, pela via da oração e por ela própria, se torna algo “fixo como pensamento”, e que apenas cresce mais e mais em nós.

Este tema da tentação é interminável, como infindáveis são as pulsões de tentação humana. Entretanto, sendo simples e prático, eu digo que o que de melhor se pode fazer por si mesmo na hora da tentação, não é pensar que podemos vencê-la, mas sim que não temos o poder, em nossa carne, para combatê-la...

E, assim, sabendo disso, virmos a descansarmos em relação à tentação, pois ela se alimenta de nossa luta contra ela.

Afinal, o que não pode ser vencido pelas nossas próprias forças, havendo confiança na Graça, já deveria estar vencido como ansiedade em nós; pois, se não posso, por que se afligir com tal impossibilidade? Assim, é esse cinismo santo para com o poder da tentação, e que resulta de nossa confiança na Graça de Deus, aquilo que deve tirar o poder da ansiedade e do medo pelo qual a tentação cria metástases em nossa mente, em todo o nosso processo de pensar. Quanto mais se enfrenta a tentação como tal, mais ela cresce em nós; e se orarmos contra ou em razão dela, mais ela se "fixa" em nós; tornando-se uma devoção diabólica; fazendo-nos “orar” contra aquilo que só se torna o que tememos quando é tratado como tal.

A única maneira de enfrentá-la é deixando-a rouca... falando sozinha... sem resposta nossa... enquanto nos desobrigamos de conversar com ela... ou de respondê-la... ou de mostrar para Deus e para nós mesmo que temos "o poder do livramento"... e que por isto a venceremos. Isto porque o “poder do livramento” do qual nos fala Paulo, escrevendo aos Coríntios, só se efetiva na vida daquele que descansa no livramento que já é; e que não apenas será se o tornarmos real por nossas próprias forças!

Quando se confia na Graça e no amor de Deus por nós, toda tentação perde seu poder; e se descansarmos na certeza de que Jesus já foi também tentado por nós, conhecendo cada uma de nossas fraquezas ou tendências, mais vicária e transferível, pela fé, será a vitória de Jesus em nosso favor.

Se houver confiança e descanso, é claro!

Desse modo, descansando é que se vence a tentação, confiando na fidelidade e na imutabilidade do amor de Deus. Pois só assim recebemos o poder de resistir, ou de suportar a tentação; posto que desse ponto em diante as tentações deixam de ser “sobre-humanas”, e se tornam apenas humanas; e, portanto, reduzidas ao nosso próprio nível, deixando de ser um poder irresistível. Paulo e Hebreus ensinam que as tentações não suportam o nosso silêncio confiante na Graça; assim como não suportam nosso descanso na Cruz de Cristo. Afinal, o “Está Consumado” vale também para as tentações.

As tentações crescem na medida em que nossas pulsões psicológicas, provocadas pelas nossas próprias cobiças (insegurança essencial) — e que são os agentes progenitores do que chamamos tentação —, se aninham e se fixam em nós como medo de Deus e de Sua punição.

Sim, por essa via elas apenas aumentam, visto que tal realidade existencial e psicológica aceita a provocação do "medo de estar sendo tentado"...

Do mesmo modo elas crescem em razão de nosso de-bate com elas.

Tentação come medo; e se alimenta do seguinte cardápio: oração amedrontada, de-bate psicológico, discussão com ela, medo de Deus; e também de seu oposto, que é a arrogância que julga que por força própria se pode vencê-la.

Quem já não tem justiça própria, não tem mais assunto com nenhuma tentação!

"Vamo-nos daqui... Aí vem o principe deste mundo, e ele nada tem em mim..." — disse Jesus.

O principe deste mundo se alimenta do que “ele tem em nós”!

Assim, como há muita cobiça e outras loucuras em todos nós...! o melhor a fazer é confiar Naquele em quem o tal “principe” nunca teve NADA: Jesus.

Parece coisa boba, mas não é!

Quem desejar, pratique; e verá como as tentações não suportam a confiança e o descanso na Graça; e isso em silêncio que nem ora contra... mas apenas ora em gratidão! O grande problema é aprender isto como confiança, e não como “teoria”.

E mais: aprender a ser grato e natural com Deus mesmo em tais horas críticas.

Quando a gente aprende isto, ela, a tentação, ao chegar... começa a perder o poder; posto que se alimenta de nossas importâncias; e sobretudo de nossa justiça-própria, de nossa necessidade de dar explicações a nós mesmos e aos céus; e, sobretudo, do medo de estar sendo tentado!

Caio Fábio